sexta-feira, 22 de junho de 2007

A Náusea 2 (cont.)

Mas sucede que me aborreceram demais com esse tipo de coisa em minha juventude. No entanto eu não pertencia a nenhuma família de profissionais. Mas existem também os amadores. São os secretários, os empregados de escritório, os comerciantes, os que ouvem os outros no café: sentem-se inflados, ao se aproximar dos quarenta anos, por uma experiência a que não podem dar vazão. Felizmente fizeram filhos e obrigam-nos a consumi-la ali mesmo. Gostariam de nos fazer acreditar que o passado deles não se perdeu, que suas recordações se condensaram, convertendo-se suavemente em Sabedoria. Cômodo passado! Passado de bolso, livreto dourado cheio de belas máximas. “Acredite-me, estou falando por experiência, tudo o que sei foi a vida que me ensinou.” Teria a Vida se encarregado de pensar por eles? Explicam o novo pelo antigo – e o antigo, eles o explicaram pelos acontecimentos mais antigos ainda, como esses historiadores que fazem de Lênin um Robespierre russo e de Robespierre um Cromwell francês: no fim das contas, nunca entenderam nada de nada.


Jean-Paul Sartre

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