O Sr. Achille está feliz como certamente não deve ter se sentido há muito tempo. Está boquiaberto de admiração; bebe seu Byrrh em pequenos goles, inflando as bochechas. Muito bem, o doutor soube leva-lo. Não seria o doutor que se deixaria fascinar por um velho maluco, a pique de ter sua crise; um bom empurrão, algumas palavras bruscas e fustigantes: é disso que precisam. O doutor tem experiência. É um profissional da experiência: os médicos, os padres, os magistrados e os oficiais conhecem o homem como se o tivessem feito.
Sinto vergonha pelo Sr. Achille. Somos da mesma espécie, deveríamos nos unir contra eles. Mas ele me abandonou, passou para o lado deles: acredita honestamente na Experiência. Não na sua, nem na minha. Na do Dr. Rogé. Ainda agora o Sr. Achille se sentia estranho, tinha a impressão de estar inteiramente sozinho; agora sabe que houve outros como ele, muitos outros: o Dr. Rogé os conheceu, poderia contar ao Sr. Achille a história de cada um deles e lhe dizer como terminou. O Sr. Achille é simplesmente um caso – e que se deixa reduzir com facilidade a algumas noções comuns.
Como gostaria de lhe dizer que o enganam, que ele faz o jogo dos importantes. Profissionais da experiência? Arrastaram suas vidas num torpor, meio adormecidos, se casaram precipitadamente, por impaciência, e fizeram filhos ao acaso. Encontraram os outros homens nos cafés, nos casamentos, nos enterros. De quando em quando, apanhados num rodamoinho, se debateram sem compreender o que lhes acontecia. Tudo que ocorreu à sua volta começou e terminou fora de sua vista; longas formas obscuras, acontecimentos que vinham de longe roçaram-nos rapidamente e, quando eles quiseram olhar, tudo já terminara. E depois, por volta dos quarenta anos, batizaram suas pequenas obstinações e alguns provérbios com o nome de experiência, começam a se fazer de distribuidores automáticos: dois níqueis na fenda da esquerda e eis que saem anedotas embrulhadas em papel prateado; dois níqueis na fenda da direita e recebem-se preciosos conselhos que grudam nos dentes como caramelos pegajosos.
Sinto vergonha pelo Sr. Achille. Somos da mesma espécie, deveríamos nos unir contra eles. Mas ele me abandonou, passou para o lado deles: acredita honestamente na Experiência. Não na sua, nem na minha. Na do Dr. Rogé. Ainda agora o Sr. Achille se sentia estranho, tinha a impressão de estar inteiramente sozinho; agora sabe que houve outros como ele, muitos outros: o Dr. Rogé os conheceu, poderia contar ao Sr. Achille a história de cada um deles e lhe dizer como terminou. O Sr. Achille é simplesmente um caso – e que se deixa reduzir com facilidade a algumas noções comuns.
Como gostaria de lhe dizer que o enganam, que ele faz o jogo dos importantes. Profissionais da experiência? Arrastaram suas vidas num torpor, meio adormecidos, se casaram precipitadamente, por impaciência, e fizeram filhos ao acaso. Encontraram os outros homens nos cafés, nos casamentos, nos enterros. De quando em quando, apanhados num rodamoinho, se debateram sem compreender o que lhes acontecia. Tudo que ocorreu à sua volta começou e terminou fora de sua vista; longas formas obscuras, acontecimentos que vinham de longe roçaram-nos rapidamente e, quando eles quiseram olhar, tudo já terminara. E depois, por volta dos quarenta anos, batizaram suas pequenas obstinações e alguns provérbios com o nome de experiência, começam a se fazer de distribuidores automáticos: dois níqueis na fenda da esquerda e eis que saem anedotas embrulhadas em papel prateado; dois níqueis na fenda da direita e recebem-se preciosos conselhos que grudam nos dentes como caramelos pegajosos.
Jean-Paul Sartre
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