Hoje, no fim da tarde, houve um acidente perto do CAD, onde eu faço curso de português com Fernanda. Um motoboy, saindo às pressas para entregar algo, foi atropelado por um ônibus. Morreu na hora.
Mas não é sobre isso que eu quero falar. É sobre as pessoas. Sobre o ser humano e a sua necessidade de viver da desgraça alheia, sobre como as pessoas gostam de ver acidentes, de ver mortes. Sempre urubus à procura de carniça. Uma necessidade de estar sempre a par desse tipo de coisa. As pessoas vivem disso. Precisam disso. Precisam ter algo chocante e/ou emocionante pra contar no dia seguinte no trabalho, na escola ou em casa. Precisam ter mais uma fofoca pra sua coleção. Precisam ter mais uma desgraça pra contar. Precisam de algo que as tire da rotina, algo “emocionante”. O que mais explica isso tão bem quanto a Folha de Pernambuco ser o jornal mais vendido de PE? O que há de emocionante e saber que uma pessoa acaba de morrer? Acaba de morrer por nada? Por puro descuido? Por pura pressa? Por pura força das circunstâncias? Afinal, um motoboy não tem tempo de pensar se corre perigo saindo às pressas, se corre perigo cortando os carros, se corre perigo andando rápido demais. Ele só pensa em entregar o que tem de entregar o mais rápido possível ou então vai perder seu emprego. Que graça há nisso? Nenhuma. É deprimente. As pessoas me cansam. Estou farta delas.
Na aula de redação, Fernanda comentou sobre o acontecido porque se encaixava com o tema proposto. O que eu escuto?
- Foi po eu vi! (sorriso estampado no rosto)
- Eu só não vi porque tinha muita gente (risadas)
Alguém consegue me explicar qual foi a graça? É inacreditável. É inacreditável como essas coisas deixam as pessoas eufóricas, contentes. Como elas se sentem realizadas em saber ou ter visto algo que muitos não viram. E a sensação mesmo é quando é morte. Aí sim elas se sentem plenas. “A Terra e sua púrpura demente”, já diria Drummond.
“É sangue mesmo, não é merthiolate. E todos querem ver e comentar a novidade: ‘É tão emocionante, um acidente de verdade!’ Estão todos satisfeitos com o sucesso do desastre; vai passar na televisão”.
Nota mental: Terminei de ler A Náusea, do Sartre!!
terça-feira, 12 de junho de 2007
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2 comentários:
po, tb sempre chamo a rapaziada de urubu! fica todo mundo de olho vendo se algo se mexe...
e eu tb não entendo o fascinio por violencia, por sangue.. talvez seja uma das culturas ancestrais mais antigas... tipo primata que para comer carne tinha que ser crua, ou para resolver um problema antes de invenção da lilguagem, resolvia na paulada!!
mais uma vez, e gostaria que fosse a penuktima, a humanida mostra sua cara, seu fracasso!
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